Em defesa da ferrovia, numa análise comparativa dos transportes no Brasil.
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Em defesa da íerrovie, numa análise comparativa dos transportes no Brasil
Discurso pronunciado pelo deputado federal Antonio Tidei de Lima, da Câmara dos Deputados federais, em Brasília, no dia 19 de junho da
1980 Apesar de •t-- passados 21 meses do pronunciamento, ele, sempre
atual, mesmo porque a degringola das nossas ferrovias cresce., a olhos
- r
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nus. Num Pa!s carente de petró leo, as ferrovias que' deveriam merecer
prioridade, ficam a segundo plano. Tidei de Lima expôs nessa matér ia1 muito bem a problemática.
"O papel do setor de transportes nos diferentes estados do desen- volvimento econômico brasileiro, as relações intermodal e complementos
) mútuos, as funções históricas específicas de cada uma, os problemas ope
racionais, administrativos e financeiros, a perspectiva histór:-ca da sua
atuaç;o tem sido objeto de poucos ou negligentes estudos O setor de
transportes tem importância fundamental da n peraç ão do sistema econ8mi- co, pois os seus serviços sa-o, praticamente , absorvidos por todos os ou-
tros setores produtivos"
"O setor de transportes - destacou Tidei de Lima
,
- e um setor
que produz serviços intermediários, o qual tem o nível, intensidade e
localizaç-ao influenciados pelo desenvolvimento econoA mi• co eral. Mas exer
na loceliz•c;ão dasen
•
mico O investimento em transportes tem importân cia fándamental na loca- lizaçio da ativid ade econ3mica. O investimento em transportes, atuando como po deroso fator no espaço ec nBmico, condiciona novo s esquemas de
divisão geográfica do trabalho nessas econo mias, influenc ianjo a local!- zaçio de atividades industriais, extrativas e agr ícolas"· ·
Prosseguindo o d eputado acentuou: " a im portânc ia do transporte
na economia que nos traz a •eaàa Tribuna, para m alisar mos, a política go-
vernamental para o setor Hoje o quadro de transportes apresenta os se-
R,iO /i 'D , J_,a.Y-,O i frte ""
guintes da dos: rodoviárioi
74%; ferrovnário, 14%;
eÓteD 12%. 6efflpere-
)
·"º'
"Mf 'Umo... -los com os dos chamados pait ses de senvolvidos:
Estados Unidos - rodovia, 25%; ferrovia, 50%'
Uniio Sovi tica - rodovia, 4%; hidDovia, 13%; ferrovia, 83% França - rodovia, 28%; hidrovia, 17%; ferrovia, 55%
,' ) Alemanha - rodovia, 18%; •••irMia hidr ovia, 29%; ferrovia, 53%.
Japio -rodovia, 20%; ferrovia, 38%; hidrovia, 42%:
Estes dados bem demonstram o que tem sido a política de transportes
no B
rasil que, se na-
o vinha correta a,te 1964, apo/ s esta data piorou,
pois, anteriormente, ainda chegamos a épocas em que o transporte ferro-
viário, em período pós-guerra, atingiu a marca de 29,2% em mercadorias
e 19, B% em passageiros em IAif1 1 1950"';
NAO H MUDANÇAS
"A hist ria - afirmou Antonio Tidei de Lime - dem onstra que a im-
plantação dos transportes no Brasil foi feita com base no modelo econômi-
co exportador de matérias-primas ou de produtos agr!colas. Todas as vias,
,
e principalmente as ferreas, avançaram rumo ao interior, ligando as zonas
de produção com os pontos de exportação. Desde o Barão de Mauá , nos idos tempos de 1852, quando se iniciou a implantação da ferrovia no trecho que
vai da baía da Guanabara a Raiz da Serra, no Rio de Janeiro, até hoje está
se pensando e se agindo dessa forma";
" s estudiosos do assunto e todas as escolas ensinam que os meios
de transporte mais barato são - o hidroviário, o ferroviário, o rodoviá-
rioe o
,aereo . Os dados que apresentamos s-ao
de o/ rga-o governamental
{Geipot) ligado ao Ministério dos Trab,portes
..., t=(S S:Et:1 ,--u,LHoç
Depois de um aparte parlamentar, Tidei de Lima disse: "Deputado
Walter Silva, agradeço e incorporo tio meu discurso o seu aparte, que veio engrandecer o meu pronuncimanebo. Deve ter na lembrança um ftato
n-ao
muito distante, o da chamada Guerra dos 6 dias, no Oriente
, ,,;.;..
Medio
Qualquer estadista ou pretenso estadista, ou pelo menos um gorvernante com um mínimo de visão, veria que o Pa!s não poderia ficar na dependên- eia dos derivados de petrólto produzidos naquela regiio"
fDeva lembrar-se q,a em 1973, quando a OPEP resolveu elevar os preços do petróleo, tambéa não se tomou nenhuma providência Em 1967,
para perceber a necessidade de encontrar novos meios de transportes, o
estadista teria que ter uma inteligência mediana; mas, em 1973, qual- quer um seria capaz de concluir que o Brasil n-ao poderia ficar na de- pendência do Oriente. Poderíamos continuar com uma política de trans-
porte voltada exclusivamente para ccnsumo de derivados daquele mine- ral"•
"Mas o que acontece hoje? O §overno insiste nessa política. Nio
se vê, até hoje, medida alguma que vise colocar o País nos trilhos. Não se vê nade de positivo nesse setor, a fim de que o País dependa
menos desses derivados e possa, através de ferrovias, de hidrovias e
de energia pr6pria, desenvolver o seu sistema de transporte de forma
""
realment e convincente, com vistas a ••• tsrr• asseg rar um futuro, se não tranquilo, pelo menos de soberania a este PaÍs", complemerlÕu o de-
) putado de Bauru
Respondendo a outro aparte, do deputado Vzsco Neto, Tidei de Lima
explicou:
falando a
"Desejo colocar que na*'1////11 o sou contra o transporte r od ov1• , a r 1• . o·: .· · ·
favor da ferrovia, n-ao stou falando contra a rodovia. Creio
que uma naça-o como a nossa, depende de combusti,vel petroli,fero, com di-
mensÕes continentais, não pode contrariar os estudos e ensinamentos da Engenheria durante anos e anos. Não se pode contestar os fatos histÓri-
cos de países como os Estados Unidos, a Uniio Sovi tica, e rrança, o
Japão e a própria Espanha, que tem um serviço ferroviário excepcional Temos que aproveitar as experiências de países mais desenvolvidos"•
• •
,
"Agora, o que temos aqui e precisamente uma economia calcada na
sociedade de consumo. Então, tem-se que produzir mais estradas para que se possa produzir mais veículos. Que venha o álcool - é muito bom - mas
n-ao podemos aumentar o tamanho das ruas mausi nas cidades. Enquanto temos
uma produção de 1 {um) milhão de veículos por ano, temos apenas um aumen- to de 7 qui1Smetros de ruas nas cidades. Nio pDoporcional o aumento de veículos relativamente ao aumento das vias públicas ! necessário se en
) tenda que imperioso o equacionamento dos transportes de massa com res-
peito
'a ferrovia e
,..,.
nao
me refiro ,
a0 trem que cobre Sao Paulo-Bauru,
.,.,,,,.
.,.,,,,.
so
so
t
Rio de Janeiro - são Paulo, masêlJ trem de subúrbio, ao metrô, à modalida-
de ferroviária de transporte".
Tidei de L1ma finaliza: "Os investimentos no setor demonstram, e com maior afirmação após 64, o desprezo que se deu aos fatos históricos
) e científicos dos custos dos transportes : As verbas destinadas às modali-
dades de transportes indicam a preferência que foi dada ao imediatismo
dos resultados e, a par disso, há interesses estranhos do futuro aobera-
no da Nação e de sua economia, o que levou esta nação e andar sobre rodas
de•a•-
•• pn. e.
us,
com o incrc. mento dadoe;,
1.·ndu- ' tr1·a automobilística e,
consequentemente, aos transportes rodoviirios".
melhor
"Durante muitos iorçamentos, o transporte ferrovi rio, que .1, a
opça-o de transporte para um Pai,s com d.imenso-es do nosso, foi rele-
gado a plano secundário. Em 1978, por exemplo , o Ministério dos Transpor-
tes destinou para o transporte ferroui rio B,3 bilh5es de cruzeiros, para o hidroviário, 4.562 e para o rodoviário 16.002 bilhÕes de cru-
zeiros. O número de vias férreas que foram executadas nos Últimos anos
conta-se nos dedos. A qu ilometragem de vias férreas diminui dia a dia, com a explicação de que são anti-economicas, mas não se vêem resulta- dos positivos. O número de funcionários diminuiu de 205.000 em 1965, para
136.000 em 1978. Hoje é normal estações não terem bilheteiros e trebs
nio possuiremo chefe-de-trem".
"Estamos hoje bem pior do que estavamas em 1930, no auge da ferro-
via, quando chegamos a 37.000 quil6 met ros de trilhos Os governantes t m ultimamente, apenas jogado o problema para a frente, com afirmações como
a do ministro Dirceu Nogueira, que em 19741 disse que o problema de trans-
porte estaria equacionado em 1979. Vemos agora as afirmações dos campo-
) . nentes da equipe atual: O metrB fica pronto em 5 anos em Sio Paulo. Da-
qui a 5 anos entra outra com a mesma tática - estamos estudando, plane-
jando e a soluçio vir daqui a 4 ou 5 anos.ta soluç5o sempre para o futuro f a t tice de jogar a responsabilidade semp re para a frente,
-
-
quando ••i•M n- ao mais se encontrarem no cargo, e ai esta naça....o, de memo# -
lembrara Ha
lembrara Ha
ria curta, nao mais , das promessas feitas. , necessidade de que tenhamos uma política de trsnportes com objetivos claros, precisos, não s6 no papel mas, principalmente, na execuçio«Ç